terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Eis duas músicas com que podem fazer o que quiserem. Nem mais, nem menos.
Com a primeira eu ia lançar "cocktails molotov" para o escritório do senhor Madoff.
Com a segunda pedia que o Benfica fosse campeão (esta música serviu este ano como "substituta" de "We Are The Champions" dos Queen na cerimónia de entrega da Supertaça Europeia de futebol). Por uma só noite, apenas aquela noite.

Mais uma vez, deixemo-nos de tretas que vivemos em crise desde o 11 de Setembro e nunca mais o Mundo foi o mesmo. Não há muito tempo para corrigir todos os males que já fizemos em demasia. [Orgulho-me de a cada dia ir engrossando a minha lista e de cair numa vingativa agonia...]






SOULWAX - NY EXCUSE (ANY MINUTE NOW, 2004)

This is the excuse that we're making, is it good enough for what you're paying?



ONE NIGHT ONLY - JUST FOR TONIGHT (STARTED A FIRE, 2008)

Take care em 2009!






Não posso dar dois passos

Se o mar que sonho vislumbrar
fosse um espelho a que me visse ,
seria um peixe
que calmamente se alimenta dos outros
com a dor da tenuidade
do resultado final:
não me consigo ver;
sou o meu próprio terminal
e nunca ninguém me disse




BLUR - TENDER (13, 1999)

sábado, 27 de dezembro de 2008

Dois Mil e Oito

Em tempos idos, deixava nos comentários espalhados pelos blogs que todos os dias visito um comentário ou outro. Era norma que fosse extenssíssimo e demorado, de tal maneira que o blog ficava perdido no meio de uma grande confusão.
Por isso, num 2008 que foi tão vazio e atafulhado, um norte sem sul, o tempo que a si próprio se fez esquecer, como uma montanha-russa da qual, afinal, temos tanto medo que acabámos por desejar nem sempre ter passado pela vista, não queria por nada fazer uma lista dos meus discos favoritos. Mas ficaria tudo como 2006 em que não consegui também fazer uma lista nem nada? Nem pensar.
Portanto, posso divagar um pedacinho como faço nos vossos blogs malta?

Bom, posso dizer que o meu ano discográfico ficou feito por volta de finais de Agosto, do final da “silly-season”. Numa acção inesperada, os Bloc Party lançaram para a Internet “Intimacy”, o aguardado 3º álbum, o tira-teimas. Tal como os Radiohead, e até pela edição física em CD posteriormente, os Bloc Party esperam colher resultados e lançar singles por 2009 fora e render o seu trabalho.
“Mercury”, o 1º avanço afinal deste novo registo, chateou à séria uma tremenda quantidade de fãs. E…a mim também. Contudo, sabe-se que um single não pode definir um álbum de 10 canções ou mais, e para mim este single não o faz certamente. “Intimacy” foi uma reviravolta dentro da continuidade, a mesma que levou os Late of The Pier, Vampire Weekend, Black Kids ou Glasvegas a triunfarem num ano em que os discos de estreia de novas bandas não tiveram o impacto de outros anos, e muitos outros 2ºs desafios foram lançados na sombra do “underground”, casos dos álbuns dos The Automatic ou The Departure. Talvez “A Weekend to The City” tenha sido mesmo o passo em falso necessário para uma verdadeira progressão. Não que “Silent Alarm” e “A Weekend…” tenham dado directamente a “Intimacy”, mas nota-se claramente uma mescla dos argumentos mais fortes de cada um dos dois. Canções fortíssimas mas ásperas como “Trojan Horse”, “Halo”, “One Month Off”, misturam-se no mesmo disco em que há lugar para uma ASSOMBROSA “Zephyrus”, “Biko”, “Signs”, “Better Than Heaven” e “Ion Square” sem a ineficácia de canções do 2º disco, mas pautando-se por um explorar de electrónica e de ritmos variados que lembra a digressão sem regresso do CD de 2007.

Uma escolha desacertada? Descontextualizada? Bom, não quero vir aqui dizer que os LCD Soundsystem (que editaram em 2008 o maior auto-elogio às suas próprias canções como regra de código – “Big Ideas”) ou os Bloc Party estão no “main event” e ganharam um posto, mas se calhar são colectivos cuja mestria e intensidade, neste momento, não é igualada por muitos e tão consistentemente, especialmente no caso da multidão que acompanha (?) o dono da DFA.

Os restantes lugares do “top”…bem, é extremamente complicado escalonar tão bons discos que tivemos também em 2008. A Austrália afirmou-se mais uma vez um berço de pop arrasadora, trazendo a confirmação dos Presets e dos Cut Copy como marcas de fundo num país em que Pip Brown aka Ladyhawke saiu dos Teenager por uns instantes e deu outro belo disco. Não esquecer claro, as estreias dos Pendulum e Grafton Primary (apoiadíssimos por aqui) ou dos Mercy Arms.
Derivando de nomes como estes, surgem como novas pistas colectivos ou pessoas singulares que remisturaram alguns temas, trazendo a rede enorme do “Myspace” para o espaço para os parêntesis que à frente do nome da canção trazem lá “remix” ou “version” também. De todo previsível após 2007, com as estreias dos The Whip e Black Ghosts a fazerem correcta gestão de expectativas e impulsos.
A música alternativa ou “indie” tem coordenadas ressuscitadas e continua a revitalização de 2007 e de anos anteriores desencadeada pelos Arcade Fire, Of Montreal e Broken Social Scene, enormes agrupamentos de que diversas figuras, saindo por uns tempos ou rompendo mesmo os laços, aproveitaram para continuar a criar, como Final Fantasy ou Kevin Drew, em 2007. As bandas podem não ser tão grandes, mas dos Field Music saiu o projecto A Week That Was, o dono dos Deerhunter edita novo disco e desdobra-se como Atlas Sound, aparecem os Shearwater e outros mais.
Não são apenas os mesmos a ter direito a saudações: Bon Iver ou Simon Bookish são rostos de estreias ou de maior visibilidade que algumas bandas tiveram finalmente em 2008.

Continuando, há quem tenha futuro e há quem não tenha. Os Baumer separaram-se e deixaram um 2º disco, “Were It Not For You”, que pessoalmente deixa-me imensas saudades de uma banda que tinha um futuro mais que risonho. Espero que não aconteça isso com os The Idle Hands, por exemplo (lembram-se deles e de “Loaded”?).
Os Idle Hands, por sua vez, que têm a ver com os Stone Roses? Será que podem ajudar a continuar esta viagem? De facto, 2008 foi o ano de mais regressos e reuniões anunciadas, como a dos Madness – ah, peço desculpa, e já agora…só falta convencer Ian Brown. A melhor notícia da “pequenada” dos anos 70, 80 e 90 foi trazida sem sombra de dúvidas por “Death Magnetic”, dos Metallica. E...tcharan! “Chinese Democracy” saiu da nébula, esteve quase 20 anos à espera, mas está cá fora. E o regresso podia ter sido pior…o que vai acontecer ao aguardado sucessor de “100th Window” dos Massive Attack?

Para terminar o assunto “reuniões”, falta falar nas reuniões “não-anunciadas” e tão badaladas mas que cimentaram fortemente um desejo de um regresso em conjunto: Last Shadow Puppets (os Arctic’s têm regresso marcado para 2009, cortesia de Josh Homme na cabine de produção, e os The Rascals têm que trabalhar mais um pouquinho…e não é culpa do produtor) e David Byrne+Brian Eno.

Se olharmos para os artistas com maior projecção, os Coldplay prometiam muito com “Violet Hill” mas ficaram-se por tentar convencer quem os adora a não desistir deles em vez de finalmente decidirem se deixam que Brian Eno lhes dê “Brains”, Madonna perdeu-se um pouco em 2008, mas não muito; Rihanna continua a agigantar-se, Britney Spears começa a ir pelo mesmo caminho, mas a sair do fundo do poço, e Estelle, Jason Mraz e Duffy deram o primeiro passo rumo ao grande público, com mais ou menos segurança, o que não lhes fica nada mal tendo em conta canções como “Magnificent”, “Life is Wonderful” ou “Warwick Avenue”. Katy Perry, essa sim, já joga um "play-back", uma espécie de "rewind in time" com a pop e sabe que não será apagada de 2008. Já Alicia Keys disse com razão que era uma "Superwoman", mas encontrou "Another Way..." para levar Jack White consigo para um anti-clímax que serviu de soundtrack ao segundo filme de Daniel Craig como "Double Oh".


Nem todos os que se propuseram a caminhar em direcção à realização, monetária e não só, das suas carreiras o conseguiram. Foi o caso dos Cansei de Ser Sexy, que deram um valente trambolhão com “Donkey”, quer nas vendas, quer nos pontos fortes da sua música que cobriam francas lacunas. Com “Inside In, Inside Out”, atingiram o sucesso imediato e foram deificados quase um pouco por todo o Mundo, conseguindo aglomerar vários públicos em torno das suas excelentes vibrações e sentido de oportunidade. Para uns estagnados, para mim continuando a fazer óptimas canções, os The Kooks editaram “Konk” e, apesar da forte aposta, não houve o retorno desejado, uma vez que bandas como os MGMT extravasaram horizontes e…estão quase “na moda” enquanto não mostram nos singles a veia experimental que tão bem se fundiu com a pop-electrónica “trave-mestra” de “Oracular Spectacular”. Após terem posto os dois pés em terreno de aceitação global, os The Killers mantiveram a forma de cantar de Brandon Flowers numa fina linha entre o delirante e o horrendo, deixaram “Sam’s Town” para trás com a missão cumprida (pelo menos para mim que não desgostei assim tanto do disco…) e voltaram à sua mansão dourada onde a “synth-pop” puxa o lustro e aponta rumos certeiros para letras, ideias e vozes. Terão conseguido de vez o “airplay” que reclamam com razão?

E houve Kings of Leon, houve Ben Folds e quantos mais que ressurgiram e recusaram-se a assinar o livro de São Pedro num suposto "paraíso/Céu musical". Pilares de força de 2008, sem dúvida.

Por fim, em Portugal, menos nomes saíram do que os novos nomes que se afirmaram. Brevemente gostava de ouvir as propostas dos The Portugals e de João e a Sombra, mas em 2008 foi hora dos Feromona, dos Peixe:Avião, de Rita Redshoes, dos Pontos Negros, dos Macacos do Chinês, de Noiserv e de outros, que como os Buraka Som Sistema, não deram “tiros no pé”, e que ao contrário dos Deolinda, não tiveram o sucesso merecido. Foi tempo dos X-Wife e de outros continuarem a mostrar que os nossos melhores representantes musicais no século XXI são, de facto, muito muito bons.
A Consoada Flor Caveira foi o ponto de exclamação na afirmação desta “nova” editora/família. E o Tony Carreira, as Just Girls e a “kizombada” toda continuam no topo…das vendas.

Em outros campos, pouco mais há a destacar. “Gossip Girl” e a saga “Flight of The Conchords” (também extensível a disco dos próprios Flight of The Conchords), para muitos, vieram romper com um interlúdio extenso, consequência também da greve dos argumentistas, em relação ao surgimento de novas séries de interesse. A rádio continua exactamente na mesma, com os melhores à procura de um país mais desenvolvido, e a TV por Cabo continua a ser responsável por trazer o indispensável Jon Stewart e os bonequinhos kitsch do “South Park” para responder às preces tipo: “Patrões da TV, de bolsos cheios e a tentarem não ser ‘Madoffs’ também, dêem-nos mais que ‘Os Contemporâneos’, ‘Sociedade Civil’, os bons programas nacionais sem orçamento para quase nada e as boas séries que não são feitas em Portugal…”


Fica o vídeo do 3º single de “Intimacy” e a “melhor canção” de um evento que tem vindo a perder o impacto e substância que levava aos agentes passivos e activos da indústria musical – trata-se do Festival Eurovisão.
Pelo meio, à falta de grandes apostas num ano em que se prevê quem sabe uma viragem de cena musical e uma centralização maior no “nu-disco” (de que já vimos amostras na excelente estreia dos Hercules & Love Affair e nas propostas dos Aeroplane (principalmente), Little Boots e Anoraak) sustentado recentemente pelos Chromatics e Glass Candy com óptimos resultados, fica o regresso de uma das maiores bandas da primeira década do século XXI com “pompa e circunstância” no nome do single, chamada de atenção no título do CD e um irresistível e sumptuoso incentivo à descontracção canção fora.

Este post fica inacabado enquanto vou pensar quem é que os MGMT superaram em 2007, boa?


Tenham um excelente 2009 e concretizem os vossos sonhos, desde que uma das 12 passas vos traga alento para sobreviverem a mais outra crise. Please!



BLOC PARTY - ONE MONTH OFF (INTIMACY. 2008)



FRANZ FERDINAND - ULYSSES (TONIGHT:FRANZ FERDINAND, 2009)


SEBASTIEN TELLIER - DIVINE (SEXUALITY, 2008)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Fará algum sentido começar este post com “Related Words: O TOQUE DE MIDAS”?
Talvez, mas paremos por aqui. O que é facto é que com derrotas com sabor a vitória, com chatices que sabem a vontade de crescer e romper com qualquer coisa, com perdas que conduzem à salvação de todos, os maiores vícios de sempre sobrevoam a “tona da água”, atormentam-na e enfurecem-na como se transformá-la num monstro do Loch Ness fosse necessário para dar algum sentido a uma vida já de si perdida num imenso desnorte típico de uma época natalícia – versão académica.
O que então sobra? A alegria de pertencer ao Núcleo de Rádio e não saber para é que sirvo ainda, os amigos de que de vez em quando se duvida, o tal filme que vem dizer que no Natal mais vale pôr o MP3 em antena, e uma vontade agora enorme de fazer o tal “up to date” em relação à música de 2008 e de escrever qualquer coisa urgentemente para toda a gente que não me queira ler. São todos vícios que andaram a ser atacados mas que continuarão cá.
Um deles será também ter a convicção maníaca de que cultura pop é mesmo cultura pop. Por isso, há artistas cuja contribuição parece que vai continuar ensombrada por falsos salvadores que são como lentes de contacto: no final de contas, terás que “chorar” por eles.

É meu vício ver que Rihanna está a crescer, tomou um caminho de construção de identidade que se assemelha a um adolescente que não vai parar de quebrar cada espelho que encontre até encontrar o seu verdadeiro “eu”.
Que é ela que define o topo, que é “A INTOCÁVEL” a cada ano que passa (em 2008, na companhia de Estelle e Jason Mraz) no “mainstream”, que cria uma sobre-imagem que caminha alegremente para estorvar a compreensão da “menina-senhora” em que se tornou.
A minha mania agradável: acreditar que poderá não olhar para trás, como eu que procuro vestígios de qualquer coisa em constante mudança num vício sem fim.

E não queria eu falar de vícios!...



T.I FEAT. RIHANNA – LIVE YOUR LIFE (PAPER TRAIL, 2008)