domingo, 23 de setembro de 2007


Há um ministro que já disse que a Margem Sul é o tão famoso deserto.
Neste momento, a Margem Sul tem, pelo menos, mais uma coisa que a Lisboa do Bairro Alto não tem: mais uma banda cheiinha de potencial prestes a sair cá para fora.

Convenhamos: a Margem Sul não é um deserto e, concerteza, terá (e tem, que toda a gente sabe) as suas realidades e pessoas insuportáveis. Atente-se no seguinte ponto: a 16 de Agosto de 2007 foi publicado um post no blog online da Rádio Sesimbra sobre os Million Dollar Lips. Caramba, há uma rádio que, apesar de tudo, tem um blog online e apoia as suas estrelas locais, cujo brilho, neste caso, não é de difícil reacção. 9 dias depois, seguiu-se a entrada de rompante dos Million Dollar Lips pelos meandros magnéticos da blogosfera e, há pouco tempo, chegaram-me aos ouvidos.

A reacção foi espontânea. Qualquer metáfora em que pudéssemos inserir os Million Dollar Lips só poderia dar um matiz semelhante a um alegre furacão. A “censura” informa que vem aí mais uma banda com recortes dos Joy Division, The Fall ou Human League feitos motivo para triunfar. Com “Single Round”, pelo menos, estes três rapazes deixariam toda a Espanha envergonhada com o “pastiche-cópia” de que as suas bandas não conseguem passar e a Inglaterra abismada por as suas novas bandas se terem esquecido dos teclados. Mais uma vez, insistem em desfazer metáforas e desfilam alegremente por algodão-doce efervescente saído de cada tecla e pelas guitarras e voz propositadamente prepotentes que não desdenham cada nota.

Encontram-se em trabalho de estúdio com Marc Requilé (ex-Evil Superstars e actual parte masculina dos Vive La Fête) que parece virar a sua produção para um caminho semelhante ao já trilhado em certos tempos pelos U-Clic.

Seja qual for o caminho que escolham, com boas canções na algibeira, os Million Dollar Lips não se vão ficar por derreter unicamente metáforas no âmbito da dita “música alternativa nacional” – as aspas são cortesia da Rádio Sesimbra FM.

Estamos, afinal, em Portugal…


quinta-feira, 13 de setembro de 2007


Não são raras as vezes que o facto de não levarmos até ao termo alguma ideia traz a paz e uma tranquilidade racional à alma.
Passou-se isso, por exemplo, com o novo “Our Love To Admire” dos Interpol.
Acima de tudo, passou-se comigo com o “Live Earth”.

Apesar das figuras de proa que eram anunciadas para o evento, nunca acreditei muito no “Live Earth”. O mesmo serve para o “Concert for Diana” e para outros eventos como o “Live Aid”. São muitas vezes demasiadas figuras de proa que trazem um discurso produzido em excesso em vez de actuações com a garra que tais momentos exigem. A culpa, claro, também é das intensas digressões que metem nos bolsos das editoras o dinheiro que os discos e, acima de muito, os downloads legais não metem.
Foi então o facto de também não esperar muito de qualquer dos eventos referidos que não me fez ter o trabalho de escrever nenhuma missiva para um dos vários programas que a RTP tem e que não cumprem a sua função, o “Programa do Provedor”.

Eu passo a explicar: esse programa é um programa onde as pessoas fazem tanto valer os seus direitos e liberdades quanto as suas limitações morais. A congregação destes dois aspectos é feita no exemplo que vi e ouvi das poucas vezes que vi o programa, em que alguns espectadores se manifestavam contra um programa de educação sexual infantil devidamente adequado quer ao público a que se destinava, quer ao horário madrugador em que foi emitido. Na resposta a estas intervenções vem o incumprimento das funções do programa: o provedor muito diz, nada faz. Pode fazer? Talvez não. Porque existe o programa? Para envergonhar a RTP ou para que o sentido de vanglória íntimo de cada um vá à bola finalmente com a famosa “caixinha de sugestões”?

Finalizando este caso, nada teria que ser feito, logo, nada foi feito. Em relação ao “Live Earth”, alguma coisa tem que ser feita principalmente na doutrina e condutas que passeia consigo. Nesta matéria, a indignação em massa de muitos espectadores mereceu uma resposta de Nuno Santos, director de programas da RTP, no “Programa do Provedor”. Mereceram consideração minha algumas ideias:

- “A RTP1 é um canal nacional e generalista que trabalha para todos os portugueses. Portugueses de todas as classes sociais, de todas as regiões do país, de todas as idades. Com este horizonte, e não é possível confundi-lo com as elites, as pseudo-elites ou simplesmente com aqueles que têm mais acesso à informação ou ao conhecimento, acontecimentos como o espectáculo de homenagem à Princesa Diana ou o Live Earth necessitam de enquadramento e de contextualização de modo a serem efectivamente entendidos por todos.”

. É precisamente no campo das artes que a RTP não é um canal generalista. Contudo, o preconceito já está enraizado: não há que apostar em formatos ou gente sem provas dadas, há que deixar isso para quem o quiser fazer. Se o “TOP +” da RTP melhorou foi porque passou a trazer para o palco, ao vivo, as estrelas da nova música nacional e que são bandeiras de gala da sua ramificação radiofónica mais jovem e mais jovem-friendly, e mais ouvida: a Antena 3. O maior sucesso da RTP, conducente a um dos programas de maior qualidade da estação, foi o colectivo “Gato Fedorento”, um grupo em que a RTP só apostou devido a um fenómeno de audiências, conversas e comportamentos insustentável para estar de fora da “guerra das audiências”. Atrevo-me quase a dizer que o maior erro da RTP foi não ter sido a Antena 3 versão TV, dada a cobertura magnífica dos concertos e o contributo, embora sempre condicionado, minimamente sério dos profissionais que lá vimos (Nuno Markl, Nuno Calado, etc.).
Pior ainda, há uma subposição da música em relação a qualquer outra arte, e isso é visível em qualquer um dos canais públicos de televisão, cujos afamados programas culturais cultivam o elitismo e a adulação da pintura, da escultura, do cinema e da leitura como artes maiores sem perceber que a música contemporânea – essa sim constantemente posta em causa - consegue ser tanto a arte mais fácil como a mais difícil, uma “arte-gémea” da vida quotidiana.
Sem programas de tentativa de abrangência cultural, a RTP, de facto, esquece “pseudo-elites” (ainda não perceberam que a TV pública em Portugal como incentivo está a morrer e que a TV mundial já não faz grande sentido em 50% do seu tempo) e resume-se a um papel muito melhor: anuncia os festivais de Verão em Portugal, associa-se a eles como patrocinador e não abraça a possibilidade de promover as suas próprias iniciativas em qualquer espaço da sua emissão. Quem sabe se serviço público em Portugal significa não transmitir qualquer concerto de música (realizado em Portugal) e cultivar uma elite macarrónica e anti-vanguardista. Não conhecer algo significa que não vale a pena conhecer. Prossiga a marcha.

- Não vale a desculpa do desnível de horários entre E.U.A e Portugal, nada pode desculpar uma emissão cheia de conversa desnecessária que não sai do politicamente correcto e da iteração de regras de conduta que sabem a sonhos numa noite de Verão. A juntar, claro, a falta de cultura musical não mascarada como deve ser e a aparente inconsciência da transmissão em diferido de concertos (eu ouvi várias vezes a expressão “em directo”).

- Nas questões das alterações climáticas, a acção é muito mais fácil e produtiva que a reflexão, ainda por cima quando se encontra subjugada a um necessário clima de festa em tempo de ameaça futura.

Vale a pena, de facto, uma reflexão da RTP enquanto serviço público de televisão, porque pagar 400 € para um canal que não sabe engolir nada é flagelar a ida a mais uns 10 concertos que se não forem de sucesso, são de qualidade.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

I don't wanna work in a building downtown
No I don't wanna work in a building downtown
I don't know what I'm gonna do
Cause the planes keep crashing always two by two
I don't wanna work in a building downtown
No I don't wanna see when the planes hit the ground

I don't wanna work in a building downtown
I don't wanna work in a building downtown
Parking their cars in the underground
Their voices when they scream, well they make no sound
I wanna see the cities rust
And the troublemakers riding on the back of the bus

Dear God, I'm a good Christian man
In your glory, I know you understand
That you gotta work hard and you gotta get paid
My girl's 13 but she don't act her age
She can sing like a bird in a cage
Oh Lord, if you could see her when she's up on that stage!

You know that I'm a God-fearing man
You know that I'm a God-fearing man
But I just gotta know if it's part of your plan
To seat my daughters there by your right hand
I know that you'll do what's right, Lord
For they are the lanterns and you are the light

Now I'm overcome
By the light of day
My lips are near but my heart is far away
Tell me what to say
I'll be your mouthpiece!

Into the light of a bridge that burns
As I drive from the city with the money that I earned
Into the dark of a starless sky
I'm staring into nothing
and I'm asking you why
Lord, will you make her a star
So the world can see who you really are?

Little girl, you're old enough to understand
That you'll always be a stranger in a strange, strange land
The men are gonna come when you're fast asleep
So you better just stay close and hold onto me
If my little mocking bird don't sing
Then daddy won't buy her no diamond ring

Dear God, would you send me a child?
Oh! God, would you send me a child
Cause I wanna put it up on the TV screen
So the world can see what your true word means
Lord, would you send me a sign
Cause I just gotta know if I'm wasting my time!

Now I'm overcome
By the light of day
My lips are near but my heart is far away
Now the war is won
How come nothing tastes good?

You're such a sensitive child!
Oh! You're such a sensitive child!
I know you're tired but it's alright
I just need you to sing for me tonight
You're gonna have your day in the sun
You know God loves the sensitive ones

Oh! My little bird in a cage!
Oh! My little bird in a cage!
I need you to get up for me, up on that stage
And show the men that you're old for your age
Now ain't the time for fear
But if you don't take it, it'll disappear!

Oh! My little mocking bird sing!
Oh! My little mocking bird sing!
I need you to get up on that stage for me, honey
And show the men it's not about the money

Wanna hold a mirror up to the world
So that they can see themselves inside my little girl!

Do you know where I was at your age?
Any idea where I was at your age?
I was working downtown for the minimum wage
And I'm not gonna let you just throw it all away!
I'm through being cute, I'm through being nice
Oh tell me, Lord, am I the Antichrist?!



Os Arcade Fire fazem contas com o acaso.
É essa também a minha matemática: aquela daquilo que pode acontecer.
Outro vídeo, agora à falta de um oficial, um vídeo para a melhor canção deste ano - cuidado com os vidros e com instabilidade emocional.

Se acreditarem em milagres, unam as vossas mãos e rezem pela sanidade mental do Papa. Mas apenas no caso de acreditarem em milagres.

P.S: São os Arcade Fire ao vivo num dos maiores festivais do Mundo, o Coachella. Quem esteve pelo Parque Tejo no dia 3 de Julho deste ano bem à noitinha terá saudades de cada pixel deste vídeo.

Ah, e como não sou mauzinho, também preparem as palmas para este:





Para quem esteve em Paredes de Coura, como eu, é só acrescentar um álbum e o coro formado pelas gentes que ainda não conheciam nada disto em 2005 (também não eram só os espanhóis que os conheciam, nem talvez de 2004 como alguns portugueses que estiveram quieitinhos e sossegadinhos) e que beberam o jogo para o empate dos Bloc Party. O resto está lá e para durar.